quinta-feira, 28 de janeiro de 2010


A Internet e as incertezas

Fonte: a Informação , 25-01-2010
Com Ulisses, inaugura-se a dupla consciência da realidade e sua máscara. É também o que se passa com a internet, na oposição aparentemente inconciliável entre o hoje e o amanhã. Posto que soluções dadas, atendendo ao que parece indispensável ou razoável no presente, serão capazes de comprometer irreversivelmente o futuro; enquanto a só espera plácida por esse futuro, hoje implausível, pode ser suficiente para degradar o presente a ponto de torná-lo intolerável.
O cenário desse aparente drama é que nos estamos convertendo em uma civilização impressentidamente nova, provavelmente nem pior nem melhor do que as anteriores. Apenas diferente. E talvez ainda não sejamos capazes de compreender, em toda a sua extensão, o "mito da idade da informação". São outros os valores, outros os padrões de organização social, outros os processos de transmissão de conhecimento, alterando as bases tradicionais da economia, da religião, da história, da própria cultura. E a questão já nem é saber se as novas tecnologias da informação vão alterar nossa maneira de viver, mas como o farão. Esse desenvolvimento extraordinário se processa em duas dimensões principais. Uma técnica, que corresponde à melhoria crescente na quantidade, na qualidade e na velocidade de transmissão da informação; outra cultural, interferindo em nossos padrões de convivência, produzindo o que François Brune (A Comunicação Social Vítima dos Negociantes) chama de "mercantilização do imaginário". Nossas cidades, não por acaso, são povoadas por cinderelas suburbanas que sonham, secretamente, com o fausto implausível de uma outra vida que nunca terão. Suspirando escondidas em seus quartos humildes, à espera do príncipe encantado em que se converte diariamente o galã da novela das 8, nas televisões; ou amigos, alguns próximos outros inatingíveis, nos orkuts da vida. Condenadas a viver vidas paralelas, como se a miséria de suas existências exigisse o contraponto desse eldorado a que se chega apenas girando um botão. Ou tocando algumas teclas.
Para o filósofo espanhol Ferrater Mora (Dicionário de Filosofia), "o paradoxo fascina porque propõe algo que parece assombroso seja como se diz que é". E o paradoxo, para a internet, é a pretensão de que deva ser, necessariamente, a única atividade livre de controles democráticos. Porque relações em comunidade são, sempre, construídas a partir de controles sociais. Temos interferências em todos os setores

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